Pesquisa de projeções macroeconômicas, realizada mensalmente pela Federação de Bancos com as instituições associadas, apurou, em maio, uma mediana do crescimento da economia de 6,3%, em 2010. Há estimativas mais puxadas. O Itaú-Unibanco, o maior do setor privado, por exemplo, acaba de elevar suas projeções de 6,5% para 7,5%. É chapa quente. O governo também está escalando suas projeções. De 5%, há dois meses, para 6% agora.
Tem gente como medo desse crescimento mais forte que, neste segundo trimestre do ano, pode passar de 10%, em termos anualizados. Talvez nem a China chegue a tanto. É para temer?
Dá para entender que alguns, gatos escaldados, relacionem, diretamente, expansão econômica acima de um certo limite bem comportado com descontroles inflacionários. Mas, como essa não é relação universal, e sim função de circunstâncias, a resposta mais sensata se devemos temer o crescimento deveria ser um "não" - mas com ressalvas e moderação.
Ainda existe, em boa parte dos setores, capacidade instalada para agüentar o tranco. Embora alguns segmentos, de fato, já registrem fricções e endurecimento na oferta de mão-de-obra, componentes e matérias-primas, o que está se completando agora é uma volta aos níveis de ocupação da capacidade existente em 2008. Dois fatores, além disso, podem, naturalmente, contribuir, para esfriar um pouco a fervura.
Primeiro, um aumento da oferta global, com a força, crescente (e preocupante em outros sentidos), das importações. Depois, os desdobramentos da nova etapa da crise global, cujo epicentro é a explosão das dívidas soberanas na Europa.
Mais do que tudo isso, um elemento incomum, presente no momento atual, pode colaborar para dissipar preocupações além da conta com um crescimento idem: o consenso em torno da sua desfuncionalidade.
Visto que, na chamada atual conjuntura, o custo de crescer acima de 6% é nitidamente maior do que benefício, serão poucas as resistências à aplicação de políticas para conter os excessos. Assim, o Banco Central ganhou espaço político para continuar o ciclo de alta dos juros básicos e não será criticado se apertar o crédito. E a Fazenda tende a ser menos resistente a pressões para determinar cortes nos gastos públicos.
A arte estará em não apertar o torniquete a ponto de desestimular o investimento em aumento da capacidade produtiva e infra-estrutura. Este vai bem, obrigado, e é o componente crítico a ser preservado, se o País quiser alongar o ciclo de crescimento agora em curso.
José Paulo Kupfer/
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