A última edição da revista Economist classifica o BNDES como símbolo do intervencionismo estatal na economia e sugere que essa atuação prejudica aos bancos privados. Sob o ponto de vista do receituário liberal, pode até fazer sentido. Afinal, trata-se de dinheiro mais barato colocado no mercado a partir de decisões de governo. Os críticos se baseiam na projeção de que o banco financiará 40% do investimento total na indústria e na infraestrutura no país neste ano.
O cenário ideal, de fato, seria menos dependência de financiamentos públicos. Mas não há motivo para essa preocupação. Estado e iniciativa privada trabalham juntos.
Há, no entanto, uma questão superveniente a essa análise. O Brasil precisa de desenvolvimento com inclusão social. Estamos em meio a esse processo - cresceremos mais de 7% este ano, com distribuição de renda para milhões de pessoas. Não temos tempo de mudar o rumo e seguir o caminho que os países de economia consolidada propõem. Mesmo porque não foi esse o caminho que eles trilharam.
Digo isso porque não foi essa receita que eles usaram durante a recente crise. Foram cofres públicos de países desenvolvidos que salvaram instituições privadas e iniciaram o ciclo de investimentos que possibilitou a sobrevida a alguns baluartes do capitalismo. E isso contra leis naturais do mercado.
No Brasil, foi a intervenção do Estado que evitou as piores consequências da crise financeira internacional. O BNDES manteve papel regulador do mercado e estimulou setores produtivos. Não se trata de defesa do intervencionismo, mas de análise objetiva.
Por décadas, a fragilizada economia brasileira reproduziu modelo de desenvolvimento injusto, concentrador de renda e ineficiente. Está com outra feição atualmente. Ainda tem gargalos. Mas há, hoje, quem financie setores estratégicos e com grandes riscos no investimento? A resposta é: não. Portanto, cabe ao governo desatar esses nós.
Países em desenvolvimento usam o mesmo modelo: o Estado atua para aumentar a competitividade e consolidar a economia. Não foi sem esforço que criamos 14 milhões de empregos com carteira assinada nos últimos anos.
A atuação do governo foi fundamental para alcançar esse número, razão de muitas comemorações. É sucesso a ser repisado muitas vezes como exemplo para outros países e outros governos.
É salutar a iniciativa dos setores têxtil, químico, de siderurgia e de indústria plástica de buscar o BNDES. São setores que têm no banco um indutor de investimento e executor de política industrial. Não se deve transformar o debate em uma disputa entre bancos públicos e privados. Os privados têm conseguido resultados excepcionais, a despeito da atuação forte do BNDES. O governo deve ser, e será, agente indutor da economia onde houver necessidade. Não será o condutor, papel que a iniciativa privada sabe exercer muito bem. Quem ganhará, ao final, será o povo deste país, que tem a vocação do progresso como bandeira.
Por Michel Temer/ Brasil Econômico
|