É na orla de Ipanema e do
Leblon que estão os metros quadrados mais caros do Brasil, estima Luiz Paulo
Pompéia, diretor da Empresa Brasileira de Estudos de Patrimônio (Embraesp). Nos
dois bairros, os mais cobiçados do Rio, o metro quadrado de um apartamento de
frente para o mar custa em
média R$ 40 mil atualmente, podendo chegar a R$ 51 mil, de
acordo com o Secovi-Rio.
Para Frederico Judice Araújo, o
mercado de alto luxo do Rio está se beneficiando mais do que a média brasileira
em função dos megaeventos que acontecerão nos próximos anos e dos investimentos
em infraestrutura e segurança que vêm a tiracolo. Ele é membro da família
proprietária da Judice & Araujo, imobiliária especializada em imóveis do
segmento.
"Assim como mercado
financeiro antecipa movimentos de empresas para comprar ações, o mercado
imobiliário antecipou o movimento de melhora da cidade como um todo. O Rio vai
melhorar muito para poder receber esses grandes eventos e isso tem um impacto
direto no mercado imobiliário", diz, citando investimentos como a expansão
do metrô até a Barra da Tijuca, na zona oeste, e a política de segurança
pública das Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs), que buscam expulsar o
tráfico armado de favelas.
"O momento é inedito, nada
se compara. A Judice está há 36 anos no mercado (fluminense) e nunca vimos um
momento tão bom no Rio. Desde que o Rio deixou de ser capital, ficou meio
largada durante muitos anos, e agora vem retomando uma posição mais
forte."
O imóvel mais caro que a
empresa oferece no Rio no momento é um apartamento de 1.600 metros quadrados
na praia de Ipanema, à venda por R$ 64 milhões.
Para José Conde Caldas,
presidente da Associação de Empresas Dirigentes do Mercado Imobiliário (Ademi),
o mercado carioca está passando a ser um mercado nacional e até internacional,
atraindo compradores de outros estados e também de fora do país.
"O Rio hoje é a bola da
vez. Muita gente quer voltar a morar na cidade. Isso existiu no passado, nos
anos 1960, quando o Rio era muito procurado. Mas depois veio uma sucessão de
maus governos e as pessoas queriam ver o Rio de costas."
Conde Caldas, que é dono da
construtora Concal, diz ter presenciado um exemplo desta tendência dois anos
atrás, quando lançou um empreendimento de luxo de frente para a praia de
Ipanema, com seis apartamentos de a partir de R$ 7 milhões cada. Quatro deles
foram comprados por pessoas de fora da cidade.
"Eu quis conhecer os
compradores para saber por que estavam comprando no Rio. Eram pessoas com
negócios que estavam indo muito bem e queriam comprar o apartamento como
investimento, e para ter uma casa de veraneio no Rio", conta.
Internacionalização
O segmento de casas,
apartamentos e coberturas com cifras na casa dos milhões se beneficia de
fatores como a queda de juros, o maior acesso a crédito, a economia aquecida e
a grande visibilidade do Brasil diante da Copa e da Olimpíada de 2016, lista
Judice Araujo. Ele observa que o mercado também vem sendo impulsionado pelo
aumento do poder aquisitivo de partes da população.
"Vemos o crescimento da
classe média, mas também a subida da classe média para a média alta e a classe
alta prosperando. Isso tem um impacto positivo no mercado de alto padrão. Vemos
nitidamente que mais pessoas têm tido condições de comprar um imóvel maior ou
uma segunda moradia de veraneio", diz Judice Araujo.
A empresa é a afiliada no Rio
da Christie's International Real State, braço imobiliário da casa de leilões
que entrou no Brasil em 2007. No ano seguinte foi a vez da Sotheby's
International Realty, da casa de leilões rival, também britânica, que
estabeleceu escritório em
São Paulo.
A entrada de ambas no mercado
nacional reflete o maior interesse internacional por imóveis de alto padrão no
país. Mas seu crescimento vem sendo impulsionado pela demanda interna, afirma o
diretor da SIR no Brasil, Fábio Rossi, que tem planos de triplicar as vendas da
empresa nos próximos três anos, a partir da descentralização.
A empresa atualmente tem
escritórios em São Paulo
e Porto Alegre. Nos próximos três anos, a meta é abrir escritórios em 15
cidades de médio porte no Brasil.
"Vamos para 15 cidades com
população acima de dois milhões de habitantes, nas quais identificamos
potencial de mercado para esse segmento. A nossa meta é ter vendas da ordem de
R$ 1 bilhão no Brasil nos próximos três anos", diz Rossi.
A empresa vem apresentando
crescimento de 15% ao ano, diz Rossi, e 95% das vendas são para brasileiros.
Mas o interesse de compradores estrangeiros no país vem aumentando, diz Rossi,
que acredita que o mercado de luxo no Brasil caminha para uma maior
internacionalização.
"Em cidades como Nova
York, Milão e Londres, os estrangeiros chegam a representar 30% do mercado, o
que mostra que temos um grande potencial de crescimento no Brasil", diz.
De acordo com Rossi, a procura
de imóveis de alto padrão aumentou também entre investidores, tendência que
atribui às turbulências na economia mundial após a crise financeira de 2008.
"O mercado imobiliário se
mostrou como o lugar mais seguro e como o melhor investimento. Algumas ações
viraram pó, o imóvel não. O imóvel bem localizado, de luxo, subiu de preço.
Todo mundo fala que o mercado imobiliário americano está caindo, mas em Nova York, em frente ao
Central Park, os preços continuam subindo. A Grécia está quebrada, mas o imóvel
de luxo lá está mais caro", exemplifica.
Descentralização
Rio e São Paulo são os
principais mercados para empreendimentos milionários, mas o aumento da procura
no Nordeste tem sido substancial, afirma Francisco Próspero, diretor executivo
da In's no Brasil. A empresa portuguesa atua no Nordeste há dez anos, com sede
em Fortaleza, e em 2010 tornou-se afiliada da Christie's International Real
State. O faturamento vinha crescendo em 20% ao ano, e no ano passado superou os
30%.
Até três anos atrás, Próspero
diz que o público-alvo da empresa eram sobretudo europeus, como alemães,
ingleses, italianos e nórdicos. Hoje, os brasileiros ultrapassaram os
estrangeiros e são responsáveis por cerca de 60% das vendas da empresa.
"Com o crescimento da
economia no Brasil, as pessoas aqui estão com uma maior capacidade financeira,
ao contrário do que ocorre na Europa, dado o contexto internacional da
economia", diz. "São compradores do Nordeste, São Paulo, Brasília,
Pará, tanto pessoas que compram como uma segunda residência para passar férias
ou como um investimento", diz.
De acordo com Próspero, o
portfólio da In's tem cerca de 250 imóveis de alto padrão nos estados que
representa - Ceará, Maranhão, Piauí e Pará. "São coberturas com piscinas
nas capitais, apartamentos de mil metros quadrados em condomínios de luxo com
vista para o mar, casas de praia, fazendas de recreio com cavalos e lagos",
exemplifica.
Os preços dos imóveis de alto
padrão nesses estados variam de R$ 1 milhão a R$ 8 milhões, estima Próspero. Já
no Rio, o patamar é bem mais alto.
No Rio e em São Paulo, o valor dos
imóveis é puxado para cima pela falta em bairros cobiçados onde não há espaço
para novas construções e escassos lançamentos imobiliários. Mas a alta de
preços não assusta as empresas que atuam no setor. Afiliada da Christie's em São Paulo, a Coelho da
Fonseca teve crescimento de 35% em 2011 e tem meta de crescimento de 50% para
este ano.
Segundo Fernando Sita, diretor
geral de vendas da Coelho da Fonseca, a redução da taxa de juros e o maior
acesso a crédito também vem estimulando a compra de imóveis pela classe AA.
"Há quatro anos era
impensável você vender um imóvel de alto padrão financiado, mas hoje isso está
se tornando uma coisa habitual. O rico opta por comprar um imóvel caro, mas
fica com seus recursos em mãos para ter liquidez, e pega um empréstimo de 70%
ou 80% do valor", diz.
Fonte: BBC