A produção industrial
brasileira caiu 2,1 por cento em janeiro ante dezembro, a maior redução mensal
desde dezembro de 2008 -no auge da crise financeira global.
Na
comparação com janeiro de 2011,
a produção no primeiro mês de 2012 diminuiu 3,4 por
cento, a menor taxa anualizada desde setembro de 2009, segundo dados divulgados
pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) nesta quarta-feira.
Economistas
consultados pela Reuters esperavam queda de 0,80 por cento em janeiro sobre
dezembro, segundo a mediana das projeções. Para a comparação com janeiro do ano
passado, a previsão era de queda de 1,5 por cento.
O
dado de dezembro de 2011 ante novembro foi revisado para baixo, de alta de 0,9
por cento para aumento de 0,5 por cento. A comparação entre dezembro do ano
passado e dezembro de 2010 também sofreu revisão negativa, passando a
apresentar queda de 1,3 por cento, ante o 1,2 por cento informado
anteriormente.
O
setor industrial foi o destaque negativo dos números do Produto Interno Bruto
(PIB) divulgados na véspera. O PIB brasileiro cresceu 2,7 por cento em 2011,
mas a indústria teve expansão de apenas 1,6 por cento no ano (frente aos 10,4
por cento em 2010), de acordo com IBGE.
VEÍCULOS
E MINÉRIOS
A
queda de janeiro foi liderada pelos setores automotivo e de extração mineral. A
produção de veículos automotores sofreu redução de 30,7 por cento, o pior
resultado desde dezembro de 2008, quando diminuiu em 38,8 por cento.
"Esse
foi o principal setor responsável pela queda da indústria em janeiro e tem a
ver com a paralisação quase completa das montadoras de caminhão para se adaptar
à nova tecnologia de motores Euro 5", disse o economista do IBGE, André
Macedo.
Além
de paralisações em setores que abastecem a produção de caminhões e carros, também
houve paradas em algumas montadoras "porque os níveis de estoques ainda
estão elevados", segundo Macedo. Na comparação entre janeiro de 2012 e
janeiro de 2011, a
produção de veículos caiu 26,7 por cento. O setor automotivo tem peso de
aproximadamente 12 por cento na pesquisa do IBGE.
O
setor de bens de capital foi diretamente afetado pelos problemas na cadeia
automotiva, com queda de 16 por cento em janeiro ante dezembro, a mais aguda
desde dezembro de 2008. Ante janeiro de 2011, a retração foi de 13 por cento, a mais
intensa desde outubro de 2009.
O
desempenho da industria extrativa também contribuiu para derrubar a produção
industrial em janeiro. A
extração mineral caiu 8,4 por cento entre dezembro e janeiro. "A extração
de minério de ferro em janeiro foi muito afetada por conta das chuvas que
atingiram Minas Gerais", disse André Macedo. "Tem ainda um menor
dinamismo nas exportações de minério", acrescentou.
A
produção de minério de ferro em janeiro caiu 15,1 por cento na comparação com
janeiro de 2011, segundo o IBGE.
Com
a forte queda na indústria extrativa, a produção do setor de bens
intermediários, o mais importante da indústria, diminuiu 2,9 por cento em
janeiro ante dezembro de 2011. Essa também é a maior retração desde dezembro de
2008, quando a produção do setor despencou 12,2 por cento.
"Apesar
de muitas taxas voltarem a dezembro de 2008, os momentos são distintos",
declarou Macedo. "Agora, o ritmo da atividade é mais moderado, visto que
metade das atividades aumentou a produção em janeiro e metade caiu, com peso
grande para veículos e extrativa. Em 2008 houve uma queda muito forte provocada
pela crise global. Não são momento comparáveis."
IPI
O
tombo da indústria só não foi mais grave em janeiro graças ao comportamento de
alguns setores, em especial máquinas e equipamentos, cuja produção aumentou 4,5
por cento em relação a dezembro.
O
desempenho foi liderado pelos bens da linha branca, cuja produção recebeu no
fim do ano passado um incentivo do governo federal, com redução de Imposto
sobre Produtos Industrializados (IPI) para máquinas, fogões, geladeiras,
tanquinhos e outros itens.
"A
redução do IPI teve um impacto positivo, mas não dá para quantificar",
afirmou André Macedo. "O fato é que em janeiro, primeiro mês após o
anúncio do governo, o número veio mais positivo que em meses anteriores."
Dentro
do grupo de máquinas e equipamentos, houve avanço na produção também de bens de
capital para indústria e para agricultura, com taxas de 5,2 e 32,1 por cento,
respectivamente, na comparação com janeiro do ano passado.
JURO
"O
mês de janeiro foi afetado por fatores pontuais, como chuvas e paralisações.
Temos que aguardar fevereiro para saber qual será o real comportamento da
industria", observou Macedo. "Há um alento que vem de dados da
Anfavea e de o Banco Central manter a trajetória de redução de juros."
Nesta
quarta-feira, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central deve
anunciar mais um corte na taxa básica de juros, a Selic, hoje em 10,50 por
cento ao ano. No mercado financeiro, as apostas nos últimos dias dividiam-se
entre mais um corte de 0,50 ponto percentual e uma redução maior, de 0,75
ponto.
O
ministro da Fazenda, Guido Mantega, afirmou na terça-feira que o governo
prepara um pacote de medidas para estimular o setor industrial, que abrangerá
novas ações contra a valorização excessiva do real.
Fonte:
Reuters