Fabricantes de brinquedos que estragam em um minuto mas são vendidos por
centavos, eletrônicos que duram um pouco mais do que isso mas também a preços
super competitivos e têxteis imbatíveis.
Um volume monumental de investimento, centradamente público, e condições
de vida questionáveis para a maior parte da população.
Acredite ou não, essa é a China que está virando passado. O processo é
lento mas já foi iniciado, e os especialistas em investimentos começaram a
ajustar suas carteiras para o que consideram a nova China.
"O custo de trabalho aumentou em dois dígitos no ano passado,
fabricantes de brinquedo e outras manufaturas estão mudando para mercados
vizinhos mais baratos, como Vietnã ou Indonésia, e quem se mantiver na China
tem que se adaptar, elevando a qualidade para poder corrigir preços",
afirma Jing Ning, gestora e analista de renda variável da BlackRock na Ásia.
Ela entende do assunto. A BlackRock, maior gestora do mundo, tem na Ásia
11% do total de ativos sob gestão. São exatamente US$ 362,3 bilhões naquele
continente - o correspondente ao Produto Interno Bruto (PIB) da África do Sul
ou do Irã.
Jing está à frente do BlacRock China Fund, lançado em 2008 e acumulando
desde então rentabilidade de 13,20%.
Não é um número que surpreenda, mas o índice de referência, o MSCI China
10/40, teve no mesmo período perda de 1,97%.
Nascida na China e criada entre o país e os Estados Unidos, a jovem
gestora combina o entendimento cultural do mercado doméstico e a demanda e
diferença em relação ao mercado internacional, unindo Pequim a Nova York.
Era a chefe para ações na China da AIG Investimentos, baseada em Xangai e
em Hong Kong,
antes de integrar a equipe de Ásia da BlackRock. Foi parar na maior gestora do
mundo depois de fazer os fundos que geria baterem os concorrentes, de 2004 a 2007.
De fala mansa mas incisiva, veio ao Brasil pela primeira vez na véspera
do feriado, para apresentar aos colegas do mercado emergente ocidental como
anda o processo econômico no emergente oriental.
"O custo de capital na China está ficando mais caro, há formação de
uma nova classe média e o que tradicionalmente vinha sendo alvo de
investidores, como aço, sofrendo", complementa.
Soa semelhante ao mercado brasileiro e o vetor de crescimento é o mesmo -
tendência de menor dependência de exportação de commodities, com maior fatia de
consumo doméstico.
"Maior preocupação com qualidade de vida e maior renda para isso
elevam a demanda por serviços, como tratamentos de saúde e educação, e por
tecnologia", aponta.
"A dinâmica da economia chinesa está mudando, mas claro que não é do
dia para noite. Deixe indústria exportadora e vá de consumo doméstico",
indica.
Na carteira do fundo, também diversificou dentro dos mesmo setores -
menor exposição em grandes bancos e maior em bancos pequenos, que têm
apresentado maior fôlego e capacidade de inovação.
Ela não acredita em uma disputa pela fatia de investimentos
internacionais entre Brasil e China, mesmo que ganhem similaridades. "Um
gestor profissional escolhe emergentes. Não seleciona uma letra em BRIC."
Revisão de aportes
Outras casas também já ajustam suas carteiras no mercado asiático. Para a
equipe de analistas de ações do Barclays, numa desaceleração mais forte da
economia chinesa, as ações mais afetadas serão do investimento em
infraestrutura e imobiliário e commodities metálicas.
A desaceleração nas vendas de varejo é prevista para expansão abaixo de
10% - ou seja, um crescimento que pode vir em 9%, ainda alto.
"Nossa equipe acredita em um ajuste mais leve e que potencialmente
leve a um ponto de inflexão para alta das ações, e não baixa", aponta o
chefe de estratégia de ações em Taiwan, Kent Chan.
"O copo está meio cheio e não meio vazio."
A avaliação da equipe asiática do Bank of America Merrill Lynch também é
de retomada. "Os dados econômicos da China sugerem que a atividade já
repica no segundo trimestre", aponta Alberto Ades, economista para
emergentes do BofA.
Fonte: Brasil Econômico