Segundo estudo recém-lançado pela consultoria Ernst
& Young, o Brasil está no fim da lista dos 30 maiores investidores da
África, respondendo por apenas 0,6% dos novos projetos de investimentos diretos
estrangeiros (FDI, na sigla em inglês) no continente entre 2003 e 2011.
Em comparação, os EUA abocanharam 12,5% dos novos
projetos; a China (Hong Kong incluída), 3,1%; e a Índia, 5,2%.
Na última quinta-feira, o BNDES (Banco Nacional de
Desenvolvimento Econômico e Social) realizou seminário, no Rio, para debater a
cooperação com o continente africano.
Na ocasião, o banco BTG Pactual afirmou a intenção
de captar US$ 1 bilhão para investimentos do setor privado brasileiro na
África, em áreas como energia, infraestrutura e agricultura, relata O Estado de S. Paulo. A Eletrobrás
também estuda hidrelétricas em Angola e Moçambique, e o presidente do BNDES,
Luciano Coutinho, pediu mais aportes do G20 (grupo das maiores economias do
mundo) ao Banco Africano de Desenvolvimento.
Investimentos e o desenvolvimento do continente
africano também serão debatidos pelo Fórum Econômico Mundial, em reunião na
Etiópia, entre quarta e sexta-feira, que tem como tema as transformações em
curso na África.
'Perdendo
oportunidades'
Os investimentos brasileiros em terras africanas
cresceram 10,7% entre 2007 e 2011, mas em índices menores que outros emergentes
- a taxa da Turquia, por exemplo, foi de 49,5% no período, aponta o relatório.
"Nossa visão é de que as companhias
brasileiras estão perdendo oportunidades na África", disse à BBC Brasil
Michael Lalor, diretor do Africa Business Center da Ernst & Young.
"Foram 33 projetos de investimento estrangeiro direto do Brasil na África
desde 2003 - menos de 1% do total."
E, com o crescimento do mercado consumidor
africano, "surpreende que empresas brasileiras de consumo - serviços
financeiros, varejo, telecom - não estejam mais ativos no continente",
agregou. Para o executivo, há também expectativas de que o Brasil "use seu
expertise em biocombustíveis para investir mais fortemente nisso".
Projetos mais agressivos
de investimento na África são de Índia e China (foto acima, no Congo)
Já há alguns ensaios nesse sentido. Em 2011, as
empresas brasileiras Guarani e Petrobras assinaram um memorando de intenções de
estudar a viabilidade de produzir biocombustível em Maputo, Moçambique.
Laços
históricos
"O Brasil tem laços históricos e
significativos com partes do continente", ressaltou Ajen Sita,
presidente-executivo da E&Y na África, em referência aos fortes
investimentos brasileiros em países de língua portuguesa, como Moçambique e
Angola, visitados pela presidente Dilma Rousseff no ano passado.
O primeiro país abriga empreendimentos da Vale e da
Odebrecht, uma das maiores empregadoras locais; o segundo é o maior receptor
dos investimentos brasileiros no continente (R$ 7 bilhões, segundo estimativas
de 2011 da Associação de Empresários e Executivos Brasileiros em Angola).
Empresas como Petrobras e construtoras como Odebrecht e Andrade Gutierrez têm
operações sólidas ali.
Indo além da África lusófona, porém, a presença
brasileira ainda é tímida. "O Brasil ainda não investe (o suficiente) para
fincar seu pé de uma maneira mais abrangente na África", agregou Ajen
Sita.
Mas, para a diretora reginal da África da Economist
Intelligence Unit, Pratibha Thaker, o Brasil está seguindo um curso natural.
"Não acho que o país tenha desperdiçado oportunidades. Começou com os
países de língua portuguesa e agora está avançando para outros - por exemplo a
África do Sul, onde mira o varejo e a agricultura", afirmou à BBC Brasil.
"É a primeira vez que o continente africano
está sendo encarado com seriedade pelo mundo (como um polo de oportunidades). E
o Brasil, ao contrário da China, é bem visto por sua tendência a empregar mão
de obra local, transferir tecnologia."
Ela adverte, porém, que espaços não ocupados por
outros países na África serão tomados por investimentos chineses e indianos.
Avanços e
recuos da África
Demanda por
infraestrutura ainda é grande no continente africano
O relatório da Ernst & Young aponta que, entre
2010 e 2011, cresceu 27% o número de projetos financiados por investimento
direto estrangeiro na África. Os principais receptores são África do Sul,
Egito, Marrocos, Argélia, Tunísia, Nigéria e Angola.
Mesmo assim, o continente abocanha apenas 5,5% do
total dos investimentos estrangeiros - algo que, na opinião de Ajen Sita,
"não reflete o potencial econômico da África".
Isso é atribuído à desconfiança de muitos
investidores com relação à instabilidade política, à corrupção e às
dificuldades em fazer negócios atribuídas aos países africanos.
No levantamento feito pela E&Y, empresários sem
presença na África veem a região como "a menos atrativa para negócios do
mundo". No entanto, diz a consultoria, quem já faz negócios na África
tende a melhorar sua percepção sobre o continente e a considerá-lo quase tão
atrativo quanto a Ásia.
Também cresce o volume de negócios entre países
africanos, enquanto velhos desafios permanecem: a infraestrutura continental é
deficiente e requer investimentos de mais de US$ 90 bilhões, apontou Sita.
Outro antigo desafio é a estabilidade continental -
um problema antigo que atualmente se manifesta com os levantes da Primavera
Árabe e com golpes de Estado em países como Mali e Guiné-Bissau.
Em resposta a isso, o relatório da E&Y afirma
que, apesar de focos de conflitos, "a democratização africana é algo real,
com os Estados unipartidários se tornando cada vez mais a exceção, em vez de a
regra".
Fonte: BBC