De acordo com a pesquisa Focus, divulgada nesta
segunda-feira pelo Banco Central, os agentes do mercado financeiro revisaram
para baixo as previsões de crescimento do PIB em 2012, de 3,09% para 2,99%.
Para os economistas, o Brasil não está imune ao
revés causado pela piora da crise financeira internacional. O seu impacto nas
contas do país, no entanto, deve ter efeito apenas "comedido".
Para os especialistas, a baixa produtividade e
competitividade aliadas a deficiências de infraestrutura constituem alguns dos
principais empecilhos para um crescimento mais robusto."É nesse momento
que nossos pontos fracos, como uma taxa de investimentos em relação ao PIB
ainda baixa, que não foram totalmente mitigados, acabam atravacando nosso
crescimento", disse à BBC Brasil Francisco Lopreato, professor de economia
da Unicamp, em São Paulo.
"A lógica é simples. Sem estradas de boa
qualidade e uma baixa produtividade do trabalhador, o preço dos produtos
brasileiros tende a ficar mais caro, perdendo espaço para os importados
internamente e sofrendo concorrência acirrada no exterior, o que acaba por
afetar nosso crescimento", afirmou Sílvio Campos Neto, economista da
Tendências Consultoria.
"A crise internacional tem sua parcela de
culpa, mas se tornou um álibi do governo para explicar a letargia da economia",
disse.
Reformas
Para os economistas, o Brasil "desperdiçou a
oportunidade" de realizar reformas essenciais em meio à bonança econômica
durante o último governo. Na ocasião, a economia cresceu a patamares elevados,
desafogando, por exemplo, o setor produtivo, que ainda sofre com uma
infraestrutura precária.
"Com gargalos logísticos ainda não
solucionados, além de problemas crônicos estruturais, como uma elevada carga
tributária e uma poupança baixa, o Brasil dificilmente conseguirá manter um
crescimento sustentável de sua economia", disse Campos Neto.
Na opinião dos analistas, o país precisa de
reformas para aumentar o nível de produtividade e reduzir custos operacionais e
no momento atual, de crise nos países desenvolvidos, deverá fazer isso com um
fluxo de capital externo agora menor, o que torna o processo mais difícil.
O cenário estaria levando investidores a
"pisar no freio" com relação aos aportes no país.
Por isso, segundo os especialistas ouvidos pela
reportagem, o Brasil encontra-se num patamar diferente do que há quatro anos,
quando atravessou, sem grandes sobressaltos, o início da crise financeira
internacional.
Com as exportações brasileiras afetadas pela queda
no preço internacional das commodities e o consumo interno com menor espaço
para crescer devido a níveis mais altos de endividamento das famílias e
inadimplência, o país teria agora sua "capacidade de manobra"
reduzida para ensaiar uma retomada da economia.
Analistas também destacam a pauta limitada de
exportações brasileiras, compostas sobretudo por commodities de baixo valor
agregado, como soja e carne.
Grécia e China
Além das incertezas trazidas pela crise europeia,
sobretudo com o risco de saída da Grécia da zona do euro, outro fator de grande
preocupação para o Brasil é a desaceleração da China.
A China é o principal parceiro comercial do Brasil
e o principal comprador de commodities brasileiras. A alta nos precos e a
voracidade chinesa explica, em grande parte, o crescimento registrado na
economia nacional nos últimos anos.
Para contornar a baixa no comércio internacional e
a queda nas exportações, o governo tem adotado várias medidas para estimular o
consumo e impulsionar o crescimento.
Na última semana, foi anunciada uma redução do
Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) para automóveis, em até sete
pontos percentuais, dependendo do tipo e da cilindrada do veículo.
O governo também reduziu o Imposto sobre Operações
Financeiras (IOF) para o crédito ao consumo e liberou compulsórios dos bancos
com vistas a estender e baratear as linhas de financiamento.
Fonte: BBC