Como o consumo das famílias é parte importante do
PIB (em torno de 60%), ao incentivá-lo, o governo espera uma retomada da
atividade econômica.
Ainda que as taxas de inadimplência e endividamento
das famílias tenham subido, o governo considera que as medidas tenham efeito
pelo menos no curto prazo, já que o desemprego se encontra a níveis
historicamente baixos e a renda está mais alta, segundo o IBGE.
Entenda por que o governo decidiu anunciar cada
medida e o efeito que espera na economia do país.
Redução do IPI para automóveis
O que
o governo fez: Reduziu em até sete pontos percentuais para veículos, dependendo do
tipo e da cilindrada. Para automóveis 1.0, por exemplo, a alíquota foi zerada
para montadoras que estão habilitadas no regime automotivo. A medida foi
acompanhada de um comprometimento do setor automotivo de reduzir os preços de
tabela e fazer promoções.
O que
o governo espera: O setor automotivo é responsável por 20% do PIB industrial e um dos
maiores empregadores da indústria. Com mais de 360 mil veículos parados nos
pátios das fábricas e das concessionárias, as montadoras já haviam alertado o
governo sobre demissões e férias coletivas. O governo espera uma retomada das
vendas, o que pode acalentar a cadeia produtiva automotiva, estimulando a
atividade econômica.
Redução do IOF para consumo
O que
o governo fez: Reduziu de 2,5% ao ano para 1,5% ao ano a cobrança do Imposto sobre
Operações Financeiras (IOF) para o crédito ao consumo.
O que
o governo espera: Com os bancos públicos e privados anunciando cortes nas taxas de juros
e redução do spread bancário (diferença entre o custo de captação de recursos
pelos bancos e quanto que cobram de consumidores e empresas), o crédito tende a
ficar mais barato. Com maior "oferta" de dinheiro, as pessoas podem
consumir mais. Da outra ponta, as empresas também vendem mais.
Queda nos juros e spread bancários
O que
o governo fez: Desde o ano passado, o Banco Central vem reduzindo a taxa básica de
juros, a Selic, até o patamar atual de 9% ao ano. Paralelamente, o governo
pressionou os bancos públicos e privados a diminuírem o custo do crédito e o
spread bancário.
O que
o governo espera: Com juros mais baixos, o custo do crédito ao tomador (consumidor ou
empresa) fica mais barato, que pode, assim, utilizá-lo para consumo e
investimentos, estimulando a economia.
Mudanças na poupança
O que
o governo fez: Mudou as regras da poupança, vigentes desde 1861. Pelas novas regras,
sempre que a Selic for igual ou menor do que 8,5% ao ano, o poupador será
remunerado pela Taxa Referencial (TR) acrescida de 70% da Selic (e não mais
pela rentabilidade fixa mínima de 0,5% ao mês).
O que
o governo espera: Com a alteração na base de cálculo da caderneta, o governo acredita
que abrirá espaço para a queda dos juros. Isso porque, quanto menor for a
Selic, menor tendem a ser os rendimentos atrelados ao índice, como fundos de
investimento e títulos públicos (a forma como o governo se financia). Como a
poupança possuía uma rentabilidade mínima fixa, temeu-se uma debandada dos
investidores para a caderneta na medida que os juros continuassem a cair.
Liberação de compulsórios
O que
o governo fez: O Banco Central diminuiu
o volume de dinheiro que os bancos são obrigados a reter na autoridade
monetária (depósito compulsório). O montante será usado como crédito para a
compra de automóveis.
O que
o governo espera: Com cerca de R$ 18
bilhões a mais em caixa, os bancos podem oferecer linhas de financiamento mais
extensas e a juros menores, incentivando a tomada do crédito e estimulando o
consumo.
Desoneração via BNDES
O que
o governo fez: Reduziu as taxas de
juros cobradas pelo BNDES nas linhas de crédito do Programa de Sustentação do
Investimento (PSI) para aquisição de caminhões e ônibus, bens de capital,
exportação de bens de capital e para o programa Proengenharia
O que
o governo espera: Ao reduzir os juros para
os bens de capital, o governo quer facilitar a compra de máquinas e
equipamentos pelo empresariado, que tem se mostrado mais cauteloso por causa da
crise internacional. Com o setor investindo mais, a produção também aumenta,
contrata mais e equilibra uma eventual escalada do consumo na outra ponta da
cadeia.
Opinião do
mercado
Especialistas ouvidos pela BBC Brasil acreditam que
o pacote terá um caráter "paliativo", pois não ataca a "raiz dos
problemas". Eles consideram que, dificilmente, a taxa de crescimento de
4%, de acordo com as mais recentes previsões do governo, não será atingida.
"As medidas são bem-vindas, mas não
necessariamente se refletirão num crescimento de 4% a 4,5% como espera o
governo no segundo semestre. Na prática, o pacote apenas evitar que a situação
se deteriore ainda mais do que está", disse André Perfeito,
economista-chefe da Gradual Investimentos.
Para outros economistas, como Sílvio Campos Neto,
da Tendências Consultoria, há risco de inflação a longo prazo com as novas
medidas de estímulo ao consumo.
"Há menos pessoas desempregadas e ganhando
mais ao passo que o setor industrial tem demonstrado cautela em relação a novos
investimentos, por causa dos temores sobre a crise internacional. Nesse
desequilíbrio, os preços podem subir", afirmou Campos Neto.
Fonte: BBC