As atenções devem estar quase totalmente voltadas
para o debate sobre como salvaguardar o euro e evitar que a crise grega se
espalhe para outros países europeus, como Espanha e Itália, ainda que a agenda
oficial seja mais ambiciosa no sentido de discutir como gerar ''crescimento
vigoroso'' no mundo.
Espera-se que o G20 expresse na sua declaração final
um apoio firme em favor do euro. E os mercados já especulam que pode ser
anunciada na reunião uma ação conjunta de Bancos Centrais para injetar liquidez
no sistema financeiro.
Entretanto, o Brasil, que avalia como positiva a
sinalização de que a Grécia permaneça na zona do euro, vai enfatizar que a
solução para o problema grego - e europeu em geral - não é apenas financeira,
mas passa por estimular os mercados dos países em crise, gerando dinamismo
econômico.
A presidente Dilma Rousseff, que está em Los Cabos acompanhada do
ministro da Fazenda, Guido Mantega, vai reforçar o coro dos que defendem uma
pitada de estímulos econômicos no coquetel de medidas de austeridade adotado
nos países avançados.
Além disso, o país vai barganhar ao lado de outros
emergentes reunidos nos Brics - grupo que inclui também Rússia, China, Índia e
África do Sul - mais poder no Fundo Monetário Internacional (FMI) em troca de
aportes para reforçar o caixa da instituição contra a crise.
Socorro à Grécia
Às vésperas do encontro, quando as delegações dos
países ainda estavam a caminho do balneário de Los Cabos, na costa mexicana do
Pacífico, sede da cúpula, o tema que mais preocupou as delegações foram as
eleições gregas - vistas como um referendo sobre a permanência ou não do país
na zona do euro.
Cúpula também é palco de protestos de
manifestantes, como estes da Oxfam
Mas logo após os resultados iniciais do pleito, que
favoreceu o partido mais inclinado a manter a Grécia na zona do euro e honrar
os compromissos do país com seus credores, o tom foi de menor tensão.
Os Estados Unidos, que consideram que sua economia
está sendo arrastada pela crise na zona do euro e que por isso têm gerado
empregos aquém do necessário, expressaram o desejo de que a eleição grega
''leve à formação de um novo governo que possa alcançar progresso rápido nos
desafios econômicos que o povo grego enfrenta''.
''Acreditamos que é no interesse de todos que a
Grécia permaneça na zona do euro, enquanto respeitando seus compromissos com
reformas'', disse a Casa Branca em comunicado.
Já o ministro do Exterior da Alemanha, Guido
Westerwelle, amaciou o tom ao falar do cenário político grego e indicou que os
credores do país poderiam concordar com um relaxamento das condições impostas
para emprestar recursos ao governo de Atenas.
"Não deve haver mudança substancial nos
compromissos", disse o ministro, ''mas posso imaginar, sem problemas, uma
negociação sobre novos prazos".
Até agora, a Alemanha vinha se mantendo inflexível
na negociação dos recursos emprestados à Grécia. Mas Westerwelle disse que o
país viveu "uma paralisia política nas últimas semanas devido às
eleições" e que ''os cidadãos comuns não podem ser punidos, especialmente
porque já suportaram cortes drásticos".
Crescimento solidário
O tom ''solidário'' com a Grécia - para usar um
termo aplicado pelo próprio ministro alemão - coincide com a avaliação
brasileira de que para salvar a economia grega não basta oferecer empréstimos e
exigir condições: é preciso que as autoridades europeias trabalhem junto com o
governo de Atenas para fortalecer a economia do país.
Em Los
Cabos, onde todos concordam que é preciso fazer os ajustes fiscais
estipulados em reuniões anteriores do G20, alguns países até então alinhados
com as ideias de austeridade, como o Canadá e a Grã-Bretanha, já sinalizaram
uma mudança de posição tendendo mais à segunda opção, a do estímulo
crescimento.
O premiê britânico, David Cameron, cujo país voltou
a entrar em recessão neste ano, deve defender uma ''ação decisiva'' para
fortalecer a demanda no continente europeu, a fim de evitar o fim da moeda
comum e o consequente contágio que os analistas consideram inevitável se
persistir a crise grega.
O ministro da Fazenda, Guido Mantega, é um dos que
já urgiram os países com superávits orçamentários, em especial a Alemanha, a adotar
programas de estímulo que evitariam as distorções cambiais e agiriam contra a
estagnação econômica.
Prevenindo crises
Além desses temas, estão sendo discutidas maneiras
de evitar futuras crises. Tem-se especulado sobre a adoção de medidas conjuntas
por parte dos Bancos Centrais para injetar liquidez no sistema financeiro, como
foi feito após a reunião do G20 em Londres em 2009.
Naquela ocasião, o grupo mobilizou de maneira
coordenada US$ 5 bilhões (cerca de R$ 10,2 bilhões) em estímulos fiscais para
conter a freada da economia global, reforçou o caixa do FMI e do Banco Mundial
em US$ 1,1 bilhão e criou mecanismos para monitorar o nível de risco nos
mercados financeiros.
O anfitrião, o presidente mexicano, Felipe
Calderón, também lembrou que pretende finalizar as discussões para o aumento de
capital do FMI, no valor de US$ 430 bilhões (cerca de R$ 878,5 bilhões) -
praticamente o dobro do poder de fogo do órgão contra a crise.
Os países do bloco Brics já indicaram em abril que
devem contribuir com o aporte, mas decidiram não falar publicamente em números
até esta reunião de Los Cabos. O grupo se reúne na segunda-feira de manhã para
tratar do assunto, com a presença da presidente Dilma Rousseff e do ministro
Guido Mantega.
Fonte: BBC